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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Todo banco é sempre um banco à espera do nosso primeiro encontro

Todo banco é sempre um banco à espera do nosso primeiro encontro  

Ninfa Parreiras

Todo encontro nosso será sempre um primeiro. Ou o primeiro naquele banco. Ou o primeiro de tudo que se pode sentir e viver em um banco.

Todo encontro nosso será o último no banco escolhido, à espera

de tantos outros.

 

Depois daquele dia, os bancos sentados não são os mesmos de antes. 

Os bancos sentados nos esperam. De pé, atravessando a ponte, massageando os pés na areia da praia.

Escrevendo versos apaixonados que saltam o Oceano numa piscadela.

 

Olho pro banco e meu coração revira em bateria de escola de samba. 

Olho pro banco e inauguro uma folha que acabou de cair.

Olho pro banco e contorno todo seu corpo.

Olho pro banco e sou capturada…

 

Penso em você.

No banco gravado pela frase da Clarice, testemunha que nos olhou.

E ainda nos fotografou em plena brincadeira dos olhos.

 

O que terá pensado o banco diante de você e de mim naquele dia? O que nos dizia em segredo?

Continuo a me surpreender com cada banco que descubro.

Repete-se a surpresa do primeiro encontro.

“Sentada ali num banco, a gente não faz nada: fica apenas sentada deixando o mundo ser” (Clarice Lispector)

Este poema-banco é pro Celso Poppe

(Fotos: arquivo pessoal, 2022)