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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Tempo discorda

Tempo discorda   
                         ninfa parreiras
Dia após dia
a menina seguia
as badaladas do relógio.
Vindas de cima
sinalizavam as horas.
A do lanche, a do banho.
E a hora de se encontrar
com as letras e os números.
E a de se entregar aos sonhos.
Certo dia, as badaladas não soaram
não houve hora do café
nem das escritas.
Que fizeram com o badalar do tempo?
A menina se desculpou 
foram compromissos perdidos
não brincou, nem leu naquele dia.
As badaladas eram companheiras
sinalizavam as horas e os sons.
Precisaria consertar aquele relógio?
Trocar as engrenagens, lubrificar as cordas
e aguardar o movimento
dia após dia
de alguma badalada sonora
de algum relógio
em um andar perto.
O tempo discorda
O tempo de corda.

(para a leitora Kelly Cristina Pereira de Lorena)
foto:arquivo pessoal, objeto poético com frase de Guimarães Rosa, 2019

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Jazidas libertas


Jazidas libertas       (inédito, 2019)
                                              Ninfa Parreiras
Eu minério a lama
Miséria em pó
Tu mineras em priscas
Eras, jaz
Ele minera o podre
A enferrujada prisão
Amargos, mineramos
Erramos?
Voz minerais:
Gritastes!
Eles mineram o cego barro
Me negam

Parem de lavar
De levar, de louvar
O minério de Minas


Parem de minerar
De barragear
As Gerais


Parem de mandar
De exportar e refinar
O ferro doido


Parem de explorar
De fazer armas
De matar as meninas

Parem de lavrar
Larvas e levas
Leves minas


Deixem o minério
Na serra, no ápice
Sem dor, na poesia

Livrem os hinos
Libertem as gemas
Libertas que sera tamen!

(A Mariana, ao rio Doce; a Brumadinho, ao rio Paraopeba; a Itaúna, ao rio São João; aos rios nossos)
(fotos: arquivo pessoal, Rio Paraopeba, verão 2019)



sábado, 2 de fevereiro de 2019

Odôiyá, Iemanjá




Odôiyá, Iemanjá
                                              ninfa parreiras

Sereia, serenar
Nadar na onda
Cantar no mar

Sereia, mansa mãe
Marear de bruma

Dança e vem

Sereia, de dia canta
Na praia o pranto
No mar o manto

Sereia, clareia noite 
De brandas rosas
Sirene encanta

Sereia, velas azuis
Espelhos alvos
Pétalas de luz

Sereia, serenar
Mãezinha embala
Simbora ao mar

Fotos: arquivo pessoal, Casa de Iemanjá, Salvador, BA, 2014