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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Tempo discorda

Tempo discorda   
                         ninfa parreiras
Dia após dia
a menina seguia
as badaladas do relógio.
Vindas de cima
sinalizavam as horas.
A do lanche, a do banho.
E a hora de se encontrar
com as letras e os números.
E a de se entregar aos sonhos.
Certo dia, as badaladas não soaram
não houve hora do café
nem das escritas.
Que fizeram com o badalar do tempo?
A menina se desculpou 
foram compromissos perdidos
não brincou, nem leu naquele dia.
As badaladas eram companheiras
sinalizavam as horas e os sons.
Precisaria consertar aquele relógio?
Trocar as engrenagens, lubrificar as cordas
e aguardar o movimento
dia após dia
de alguma badalada sonora
de algum relógio
em um andar perto.
O tempo discorda
O tempo de corda.

(para a leitora Kelly Cristina Pereira de Lorena)
foto:arquivo pessoal, objeto poético com frase de Guimarães Rosa, 2019