Saudade em roda gigante
Ninfa Parreiras
Sebastião é o
padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro. Lá em Minas, ele era o meu padrinho. Quando
completei 15 anos, de repente, ele partiu. Naquele dia, juntou gente na nossa rua para as
despedidas. Nunca tinha visto tamanha multidão: alguns choravam, outros riam,
outros cantavam. Teve até uma banda de música. Ele era um Sebastós, divino,
venerável. Homem persistente e tenaz.
Dentro de mim, ficou
uma coisa triste que nem a flecha no corpo do Santo festejado em janeiro. Carrego
uma saudade em roda gigante. Ela gira-gira em
memórias e dá um frio na barriga.
O quintal da casa do
padrinho era um mundo vegetal. O pomar, os jardins, tudo era um mistério sendo
descoberto pela meninada. A gente não conseguia chegar a todos os lugares
daquela mata. Ficava sempre um canto ou uma árvore para decifrar na próxima
visita.
Eu gostava de ler histórias sobre esse santo que também é um orixá, de arco e flecha. Meu filho ia chegar em um 20 de janeiro, mas se adiantou alguns dias. Nasceu sob as bençãos de Sebastião (sacrificado em um carvalho) e de Oxóssi (senhor da fartura e da caça).
Imagens: arquivo pessoal, desenhos modificados.