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sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Saudade em roda gigante

 

Saudade em roda gigante

         Ninfa Parreiras

Sebastião é o padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro. Lá em Minas, ele era o meu padrinho. Quando completei 15 anos, de repente, ele partiu.  Naquele dia, juntou gente na nossa rua para as despedidas. Nunca tinha visto tamanha multidão: alguns choravam, outros riam, outros cantavam. Teve até uma banda de música. Ele era um Sebastós, divino, venerável. Homem persistente e tenaz.

Dentro de mim, ficou uma coisa triste que nem a flecha no corpo do Santo festejado em janeiro. Carrego uma saudade em roda gigante. Ela gira-gira em memórias e dá um frio na barriga.

O quintal da casa do padrinho era um mundo vegetal. O pomar, os jardins, tudo era um mistério sendo descoberto pela meninada. A gente não conseguia chegar a todos os lugares daquela mata. Ficava sempre um canto ou uma árvore para decifrar na próxima visita.

Eu gostava de ler histórias sobre esse santo que também é um orixá, de arco e flecha. Meu filho ia chegar em um 20 de janeiro, mas se adiantou alguns dias. Nasceu sob as bençãos de Sebastião (sacrificado em um carvalho) e de Oxóssi (senhor da fartura e da caça).

Nesse dia de feriado na cidade do Rio de Janeiro, sempre penso nos cheiros, nos cantos, nos sabores, nas imagens e nas sensações. São corpos, são matérias que pairam na fantasia e se renovam a cada janeiro, na abertura do ano.

Imagens: arquivo pessoal, desenhos modificados.