a fiar
ninfa parreiras
o escuro da noite vaga
pelas esquinas
fazia silêncio
de suspiro
fazia ruídos
de desespero
fazia dúvida
de viver
do décimo andar
o homem se jogou
para onde?
gritos abafados
corriam pela madrugada
um corpo sem cor
enrolado no plástico
um bolo de gente
o fio da vida
o fio da morte
unidos em uma ponta
ao amanhecer
admiro o Pão de Açúcar
estático no mesmo lugar
envolto em lençol de neblina
revela sua ponte
um cabo une os dois morros
o fio leva o bondinho
ata o debaixo
ao lá no alto
o sol sopra calor
a bruma se dissolve
desembaça o fiapo
do desejo de viver
preciso escrever
olhar mais os dois morros
desenhar o deslocamento
do bondinho
dar movimento
seguir o fio de cima
o de baixo
qual o tempo a fiar
foto: arquivo pessoal, verão 2012, Rio de Janeiro