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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Autobiografia


Autobiografia
                                                                         Ninfa Parreiras
Sou mineira, da Pedra Negra, nasci em Itaúna enferrujada de minério de ferro. Vivo bem perto do mar e da floresta. Perto do Arpoador, das Cagarras e da Floresta da Tijuca. Aprecio as pedras, as águas, aquilo que as noites e os dias trazem: palavras e sonhos.
Não desprezo coisas velhas, gosto de aproveitar o que foi útil um dia e está abandonado agora, como uma caixa de papel, um móvel, um livro. Transformo em outra coisa para ser usada ou passo adiante. Isso acontece com as palavras em minha vida: tomo uma palavra e tento descobrir a sonoridade, a beleza ou o estranhamento dela.
Sou escrevedora de histórias. Lavro a palavra, capino as ervas danadas, roço o papel, planto metáforas, derramo a água nascente, passo a enxada, arredo o mato, colho a safra... Saboreio fruta e fruto.
Assim trabalho: escuto casos, humores, rumores, risos, lamentos, choros e transformo em uma lavoura. Ao modo do Drummond, o de Itabira, como meus avós e bisavós, sou uma fazendeira: do ar.


foto: arquivo pessoal, Vale da Perra, Portugal, inverno 2012