Autobiografia
Ninfa Parreiras
Sou mineira, da Pedra
Negra, nasci em Itaúna enferrujada de minério de ferro. Vivo bem perto do mar e
da floresta. Perto do Arpoador, das Cagarras e da Floresta da Tijuca. Aprecio
as pedras, as águas, aquilo que as noites e os dias trazem: palavras e sonhos.
Não desprezo coisas
velhas, gosto de aproveitar o que foi útil um dia e está abandonado agora, como
uma caixa de papel, um móvel, um livro. Transformo em outra coisa para ser
usada ou passo adiante. Isso acontece com as palavras em minha vida: tomo uma
palavra e tento descobrir a sonoridade, a beleza ou o estranhamento dela.
Sou escrevedora de
histórias. Lavro a palavra, capino as ervas danadas, roço o papel, planto
metáforas, derramo a água nascente, passo a enxada, arredo o mato, colho a
safra... Saboreio fruta e fruto.
Assim trabalho: escuto
casos, humores, rumores, risos, lamentos, choros e transformo em uma lavoura.
Ao modo do Drummond, o de Itabira, como meus avós e bisavós, sou uma
fazendeira: do ar.
foto: arquivo pessoal, Vale da Perra, Portugal, inverno 2012