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terça-feira, 29 de abril de 2008

SOBRE OS SENTIMENTOS


Sobre os sentimentos

A gente sente?
Inventa sentimentos?
Cria sonhos?
Mente segredos?

A gente precisa de coisas
Pra viver
Poucas coisas:
Comida, sono, cabana, encontro de olhos

A gente precisa de sonhos
Precisa dos sentimentos
Os sentimentos precisam de uma história
Pra existir dentro da gente

Precisam de um passado
Precisam das lembranças
De fotografias que registramos com a alma
De palavras que escrevemos nos pensamentos

E o amor?
O amor não precisa de nada que vem de antes
Não precisa do ano que passou
Da lua que minguou

Ele abre uma história nova
Como se ela nova não fosse
Ele cria uma intimidade entre as pessoas
Aproxima pessoas que nem se conhecem

Inventa um ontem e um passado
Que ainda não existem
Traz lembranças de coisas que não foram vividas
Traz faltas desconhecidas

Só o amor faz uma cumplicidade
Entre pessoas que eram estranhas há dias atrás
Um bem querer
Um trocar segredos

Um renovar da alma
Um desejo de sonhos
Um apagar das luzes
Uma chuva inesperada

É aquele Amor
Que escapa às previsões
Aos calendários
Às datas.

(foto: arquivo pessoal, Papagaio, abril, 2008)

domingo, 27 de abril de 2008

ESPERA



A ESPERA

ninfa parreiras


O que é a espera
De quem fica
Encostada na janela?

Que espera é esta
Que chama o braço
O abraço o olhar?

Que instante
Que minuto apenas
De uma mirada?

Uma espera dura quanto
Uma madrugada
Uma vida?
(foto: arquivo pessoal, Tiradentes, MG, verão, 2008)

Minas, da janela


MINAS, DA JANELA


Vejo os rios correrem
Para onde?

Os dias escorrerem
Pelas pedras?

As carroças discorrerem
Pelas ruelas?

Os casarões escorregarem
Pelas ladeiras?

Minas de lá e daqui
Soltas nas esquinas do tempo

Minas cabe na janela?
Do outro lado da rua
A espreitar os bondes que não existem

Minas cabe na mala?
Pão de queijo, roça, trem de ferro
Rios doces, mar de serras

Minas cabe num cartão postal?
Pedra sabão, desliza o tempo
As paredes infinitas das montanhas

Minas cabe no porão?
Papéis desbotados
Fechaduras emperradas

Minas cabe?
Onde chega o silêncio
Como falam as lembranças

Minas cabe
Nas palavras todas
Pintadas de Barroco

Minas cabe
Nos incontáveis dias
Sem Minas

Minas cabe
Hoje
Agora

São quinze horas
De um dia de outono
Cabe Minas aqui.

(foto: arquivo pessoal, Um janela de Tiradentes, 2008)

quinta-feira, 17 de abril de 2008

PÉ-DE-MOLEQUE


PÉ-DE-MOLEQUE

ninfa parreiras
Por onde anda?
O menino descalço
Seu apito
Sua dor de pé


Para onde foi?
O moleque da rua
Com a bola a rolar
Seu cabelo ao vento


Pedra sabão
Granito
Mineral
Gerais de meninos


Pé-de-moleque
O calçamento o doce o pé
O moleque
Do menino.


(Congonhas do Campo, MG, verão, 2008)

Rendas


FEITO RENDAS


Quando menina usava saias floridas
Carregadas de babados
Bordadas de bolinhas, bonecas
Estampadas de poá, pião

Pulava os muros
Subia na jabuticabeira
Com as saias multicores
E os desenhos a brincar

Hoje são outras saias
As de aplicações volumosas
De botões madreperolados
Cores acinzentadas

Prefere as escuras
O corte reto
O disfarce para as rugas
Feito rendas.

(foto: arquivo pessoal, Itaúna, MG, 2008)

segunda-feira, 14 de abril de 2008

CERCA



CERCA


A cerca um vidro transparente
A cerca um olho dois olhos
Três luas

De pé, de mãos dadas
As palmeiras elegantes
Tocam o céu

E o cárcere?
A tela entrelaça
A fala da mata

A fumaça tapeia
O olho da serra
O além da floresta

O cercado verde
Abre fecha dia noite
Cerca urbana.

(foto: arquivo pessoal, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, outono, 2008)

sábado, 12 de abril de 2008

MAPA



De Minas?
Do Rio?
Do céu?
Da América?

Que mapa é este?
Corta
Entrecorta
Recorta

Um coral negro
Caribe?
Um cardume
Ou o tubarão?

Meio do céu
Oceano
Mapa
Mar.

Parque da Catacumba, Rio, verão, 2008


POUSO



Pouso Repouso

Suas asas nadadeiras
Mergulho sobre folhas

São leves?
Asas de elefante?

São graves?
Vozes de leões?

São velozes?
Passos de tartarugas?

São?
Como pão e mel?

Tão!
Como você eu?

Pouso
No repouso das asas.

Mirante do Parque da Catacumba, verão, 2008


sexta-feira, 11 de abril de 2008

RABISCOS


Esboço de um Inverno

Ninfa Parreiras


Sopro
Solto
Seco
Só.

Risos
Riscos
Rabiscos
Rabanetes.

Galhos
Enganchados
Engatados
Agrupados.

Sem folhas
Sem frutos
Sem ninhos
Sem verde.

Esqueletos
Esboços
Ensaios
De inverno.

(foto: arquivo pessoal, Coimbra, inverno, 2007)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Geometria ao ar livre


Brincadeira de ângulos


que ângulo é este?
que filas fazem?

as estacas
as árvores
os capins
os cupins

estação da manhã
na serra de minas

o que esperam?
pagamento do dia?
o que recebem?
queda de geada?


colher capins
contar cupins
brincar de pique
esconde-esconde
passa-anel
barra-manteiga

geometria esquisita
ao ar livre

ao léu
de Minas.

(foto: arquivo pessoal, Estrada Pequi/Pará de Minas, verão, 2008)