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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Coisa do tempo Coisa de avião


Coisa do tempo
Coisa de avião
                                                               ninfa parreiras
Uma senhora aflita
Próxima ao embarque
No aeroporto do Recife

Sua bagagem de mão
Duas sacolas plásticas
Sobrepostas de perguntas

Enrolada em seu dedo indicador
Apertava-lhe a pele
Pendia o peso de uma matula

Na outra mão
Um terço debulhando
Cada estação de medo

Suas rugas acentuadas
Traziam dúvida
Preocupação

Sua pele esturricada
Denunciava trabalho
Horas ao sol

Perguntou-me, angustiada:
- Dona, que horas é 19h28?
Minha resposta:

- Quase 7h30 da noite
1/2 hora passada das 7 da noite
Ou: 1/2 hora que falta para as 8 da noite

- Dona, assim fica melhor.
É hora.
Como posso entrar no avião?

Pra Liliane da Costa Reis: a quem contei esta história lá no aeroporto

(foto: arquivo pessoal, orla de pernambuco, primavera 2012)