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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

PARA 2011: O CUIDADO


PARA 2011: O CUIDADO

                                                            Ninfa Parreiras

você sabe cuidar?
emprestar o olhar?
fotografar o ano velho?

dar-se...
como o sol
encolhido ao poente

entre ser dourado
ser furta- cor
reconhecer uma letra

saber um nascimento de cor
entender o pedido
deixar passar a vez

escutar o ano que findou...
quem é aquele?
que voz foi embora?

guardar, na cuia, cada grão
dar a vida à terra
a germinar no novo ano

cuidar é acompanhar
não perder de vista
que seja para dizer em vão.


amigas, amigos, pessoas queridas que me acompanham: recebam meu cuidado


      (foto: entre o cerrado e as águas de Minas, 2010)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Dolce Far Niente 2


Dolce Far Niente

                         (ora in italiano)

Scopri la mattina
Svegliarsi ogni goccia di pioggia
A dormire ogni cosa fastidiosa
Coraggio de lasciare
Aperto il giorno
Lasciare che il sogno
Creare domani...
Vivere per la vita!
Aperto un minuto
Una notte
A che ora? Dove?
Ora: è da inventare
Che la ricerca è questa?
Spazio: da creare
Il silenzio sibila
Lasciare che la vitta accada
Essere liquido in ogni pietra
Essere solidi in ogni goccia
Strappare carte ingiallite
Ignorare sbiadito
Seppellire i biancastro
Continuare a scrivere
Inaugurare questo
Inventare una gramatica
La poetica del sogno:
Tempo per amare.


                                                    Per Mauro Rotenberg

(foto: arquivo pessoal, Bologna, primavera 2010)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Tapetes ao Sol

Tapetes ao Sol

                                                     Ninfa Parreiras


Cedo tarde a luz chega
Caminha lenta, e tenta
Em ruídos, nos inunda de emoção
Nos faz chorar
Nos faz acordar
Para os tecidos da vida


Em Marrocos
Os tapetes descansam ao sol
Galeria a céu aberto
Conjugam o deserto
As especiarias
Vida e morte


Na praça
Há lugar para todos
Desdentados, artesãos
Moças, véus
A praça acolhe a gente
Ilumina a solidão


Promete mais dias de cores
Transforma o feio em beleza
Faz das frutas
Natureza viva
Toma o abandono
Abraça o amanhã.

Para o Volnei Canônica, nestes dias de perda: uma praça, tapetes, luz...


(foto: arquivo pessoal, do deserto, Marrakech, 2010)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

QUE HÁ ENTRE O CÉU E O OCEANO

Que há entre o céu e o oceano?



                                                             Ninfa Parreiras



E se não existe o céu?
O que será do oceano?



Escorrem-se os sonhos
Findam-se os truques



São invenções do nosso olhar?
Fantasias para fazer dormir?



Seria o céu um espelho d’alma?
Um reflexo de mim, de ti?



Existiria algum deus no céu?
Promessa de outra vida?



Que há entre o céu e o oceano?
A praia, a banda, a areia, os cocos:



Algum sonho.



(foto: arquivos do Rio, Praia Vermelha, inverno, 2008)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

SOBRE O CORPO

SOBRE O CORPO

                          Ninfa Parreiras

Na pele:
O leite

No pó:
A seiva

Na terra:
O profundo

No profano:
O mel

De mim:
De você

Sobre o corpo:
Palavras

Atos:
Gritos

Só:
Sonhos

Letras:
A compor


(foto: Bento Gonçalves, primavera, 2010)





RECRIAR A VIDA


Recriar a Vida


Ninfa Parreiras


As colheitas chegam
O passar dos ventos
Das palavras ditas
Dos resmungos

Com pouca água
O fruto renasce em carne
Em cor, a verdade
Pronto pro deleite

A terra apronta o leito
Faz brotar o gérmen
Cobre de luas
Assopra segredos

Ano a ano
O verão traz tempestade
Traz a tarde presa ao dia
Traz a estrada iluminada

Entre chuvas e desgostos
Não ditos e silêncios
Desabrocham conversas
Possíveis sonhos

Renascem portas
Janelas
Chaves:
a serem abertas.

Pra: Vanice, amiga-comadre, recriar momentos e ventos

(foto: Cerrado Minas, Fruto do Pequi, 2009)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Dolce Far Niente

DOLCE FAR NIENTE
                                 
                                                                                  Ninfa Parreiras


abrir um minuto, uma noite
a que hora?
em que lugar?

o tempo: está pra ser inventado
que busca é esta?
a do olhar encadeado

o espaço: por ser criado
o silêncio chiado
no mais interno?

deixar a vida acontecer
ser líquida em cada pedra
ser sólida em cada gota

rasgar os papéis amarelados
incendiar os desbotados
enterrar os esbranquiçados

guardar os escritos
inaugurar o presente
fazer deles a história


inventar uma gramática
da poética do sonho:
a casa do encontro

o tempo de amar.

(foto: arquivo pessoal, Bologna, primavera, 2010)


                                         Pro: Mauro Rotenberg, dolce far niente

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

REINVENTAR A VIDA

Reinventar a Vida

Um dia, sem fala
A vida foi criada
Acolhidos ao colo, dormimos

Aprendemos a sonhar
A tocar as palavras
A decifrar os silêncios

A cada dia, cada tempestade
A vida passa a ser reinventada
Seja sol, seja frio, seja rio

Brincadeiras, rezas,
Leituras, terços, colares
Beiras, bordados, jogos

Reinventamos a vida
Renovamos os sonhos
Colhemos o choro

Fazemos dia novo
Com o velho que aprendemos
Dia lavado pela espera

Noite após noite
Fazer do abraço, o perdão
Da morte, a vida

Do dor, a mudança
Da distância, a amizade
Da falta, a descoberta. 


Nesta passagem triste, para a Vani e os filhos

Da Ninfa Parreiras
Foto: arquivo pessoal, Bento Gonçalves, RS, primavera, 2009

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Para que serve a vida?


Para que serve a vida?

                                                                        Ninfa Parreiras

Pouco do que faço resulta num sucesso.
É uma tentativa.
Vivo das tentativas.
Elas me nutrem de coragem, de medo...
Trazem-me o sucesso, a decepção.



O fazer é um construir.
Nem tudo que construo resulta numa realização.
O construir traz uma satisfação inquestionável.
É a realização da minha existência.
Gera amor, dor, falta, tristeza...



Por que antecipar a dor?
A vida nasce e morre num instante.
Quando olhamos para trás.
Já se passaram tantos dias.
Tantas palavras gastas em vão.



Por que o medo do medo?
Não sei o que está atrás da porta.
Atrás das montanhas.
O que me trará o mar?
Conchas? Algas? Ressaca?



Gosto de ser surpreendida.
Pela própria vida.
Não antecipo sofrimento.
Sigo na busca
Do possível.

(foto: arquivo pessoal, Marrakech, Marrocos, primavera, 2010)






sábado, 25 de setembro de 2010

O Canto


O Canto

                                                                              Ninfa Parreiras

Em um átimo
Sopro do inverno
Garganta da tarde

Ruído sem voz
Sem melodia
Sem vida

Arde em mágoa
Uma palavra
Não dita

O canto
Da árvore
Da curva

Choro sem força
O dia vira noite
Setembro segue

Lamento sem voz
Canto de despedida
Sem sol

Sem lá
Sem a estrada
De volta.


(foto: arquivo pessoal, cerrado, Minas Gerais, 2010)


domingo, 22 de agosto de 2010

CURSO CASA DA LEITURA RJ


PROLER CURSOS
DE MEMÓRIAS E PALAVRAS: A LITERATURA INFANTIL
Dias e Horários: 3ªs feiras – 13h às 16h 
● Data de início: 31/08 ● Carga Horária: 20h
Professora: Ninfa Parreiras
[+] Ninfa Parreiras é mestre em literatura comparada (USP); trabalhou na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ por duas décadas; autora de obras literárias para crianças e de ensaios para adultos. Psicanalista, ministra cursos de criação de textos e de formação leitora.


Ementa: O curso pretende conhecer a produção literária nacional dirigida à infância. Haverá leituras de poemas e de narrativas da literatura infantil brasileira contemporânea, com debates e prática da intertextualidade. Recriação de histórias e poemas e estudo das linguagens do livro infantil (texto, ilustração e projeto gráfico). Identicação da memória presente nas obras literárias.


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

FUNDO

MARROCOS: Fez


 FUNDO

                                                                                                                                                                            Ninfa Parreiras



Pelos labirintos
Amarelos desbotados
Portas encardidas
Janelas encerradas
Minaretes
Mesquitas
Mercados
Moças de rostos tampados
Moços de dentes quebrados
Mudas, as crianças
Becos sem fim
Caminhos que encantam
Descaminhos
O tempo em labirinto:
Presente-passado
Antigo-novo
Decadente-contemporâneo
O Marrocos: um labirinto de sonhos
Perseguidos por pesadelos
Elos de portas
Janelas
Chinelos de couro
Tapetes persas
Labirintos de gentes
De línguas
De frutas
Camelos
Desertos
Marrocos.

(foto: arquivo pessoal, Marrocos, primavera, 2010)










sexta-feira, 18 de junho de 2010

ALÉM DA CEGUEIRA

ALÉM DA CEGUEIRA



                                                                              Ninfa Parreiras


Nossa Língua
Nossa Pátria
Nossa Mãe


De luto
Em choro
Na perda


Foi embora um poeta
Partiu um homem
Seguiu o escritor

Saramago
Na dor das palavras
No silêncio dos versos


Na escuridão do milagre
Suas histórias, suas vozes
Seus olhares, milhares


Nos acordam para o caminho
Ver além do mar
Amar além da palavra.


Para o homem que nos fez ver além da cegueira: Saramago

(foto: arquivo pessoal, Silves, Algarve, primavera, 2010)



ATRAVESSAR


ATRAVESSAR


                                                                                                   Ninfa Parreiras



Pela sombra: a estrada, o papel vazio
Pela sombra: a alma, o porto antigo
Pela sombra: o ombro amigo



Atravessar no silêncio
Na calma do dia que ilumina
As horas do porvir



Pela curva: a imagem da infância
Pela curva: o esconderijo, o joelho esfolado
Pela curva: a pipa empinada



Atravessar cada noite cada nada
O pio do pássaro
A praia sozinha



Pedra a pedra num caminho
Pedra a pedra se faz a vida
Pedra a pedra no choro



Atravessar o Atlântico
Pedra à vista
Vida vivida: um verso travesso.


Para a Madalena Santos, bem lá na Cumeada, Algarve, uma vida plena


(foto: arquivo pessoal, Lagoa, Algarve, primavera, 2010)




sábado, 29 de maio de 2010

Oceano de lá























D’outro Lado

           Ninfa Parreiras

Embalos nas ondas
Sonata ao mar
De leve em odes
De cá das marés


De lá
Vento norte
Águas frias
Montes d’água


Leva à areia
Sonhos molhados
Desenhos ondulados
Sombras dos lados

Embola, embala
Lambe a praia
Esparrama
A espuma, a rama


O Atlântico
Gigante d’água
Mar da gente
Solo molhado


Embala e canta
A saudade de lá
A gente que foi
Não mais voltará.

(foto: arquivo pessoal, Algarve, Portugal, primavera, 2010)












domingo, 9 de maio de 2010

AS RELAÇÕES SÃO LAÇOS

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AS RELAÇÕES SÃO LAÇOS


Ninfa Parreiras

Uma pedra?
Uma trilha?
Um rio?


Você? Quem?
Ela? Ele?
Nós?


Soltas
A piscar
A rolar

A cantar
A dançar
A sonhar


A correr
Entre montanhas
Pelos vales


Por caminhos novos
Labirintos de sentimentos
Tecidos entrelaçados

Como letras
Se juntam
Formam palavras


Fazem versos
Melodias
Casos e o dia-a-dia


As relações são laços
De papel
De seda


De algodão
De aço
De mato


Enlaçadas umas às outras
As pessoas se tocam
Se olham


Se descobrem
Encontros
Desencontros


Despedidas
Alegrias
Ventanias

As relações são palavras
Ao vento
A cavalgar sobre pedras


A desenhar o olhar
De espera
De escuta

De ajuda
Do respeito
Calor e dor


Lá no peito
Olhar o outro
Deixar o outro ser


Fazer o laço
Da vida
Do tempo


As relações são laços.


Para a Vani: fazer silêncio, meditar, sonhar...
Com as folhas que caem do outono
(foto: arquivo pessoal, Castelo de Silves, Portugal, primavera 2010)