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domingo, 21 de setembro de 2008

DE QUE SOMOS FEITOS?

DE QUE SOMOS FEITOS?



Das raízes das árvores
Crescidas sob a terra


Dos sonhos ancestrais
Desenhados no céu

Dos rabiscos dos galhos
Entrelaçados ao vento

Dos mapas dos rios
Dias e noites escorridos


Das sombras tranqüilas
Plácidas ao tempo


De que somos feitos?
Papel de seda brinquedo


Do linho branco e puro
Da pedra parada


Somos feitos de nuvens
Sopros suaves

Instantes d’agora
Momentos d’antes

Somos feitos uma vida
Pequena, longa


Ilusões
Memórias

O inesquecível
O memorável


Do infinito da hora
Do pleno do dia.

Ninfa Parreiras

(Foto: arquivo pessoal, Inhotim, inverno, 2008)


Cerrado em Primavera


CERRADO EM PRIMAVERA

Na serra no mato
Na trilha do vento
Brilham flores
Piscam folhas
Cores e sabores
Secas resistentes
Ouro na pétala
Tesouro de Minas
Besouros borboletas
Aves e cantos
Encantos de violetas
Primaveras gerais
Dafne coroa de flores
Dafne desabrocha mulher!

Pra Dafne, com o carinho da mãe.

Ninfa Parreiras

(foto: arquivo pessoal, Cerrado mineiro, 2008)

Em Flor


EM FLOR


Menina pequena
Tostões e corola
Boneca e viola
Coroa de botões


Desabrocha, perfuma
Em flor uma a uma
Florações...
De tantas estações

Mulher bela
De pétalas sorridentes
De asas abertas
Borboleta na janela


Com sol, sem vento
Na primavera
Do jardim de setembro
Da lua dourada.

Pra Dafne, minha menina de setembro. Hoje, mulher.

Ninfa Parreiras
(foto: arquivo pessoal, Inhotim, 2008)

Transição


TRANSIÇÃO


Como ser um avião
De papel transparente
A cruzar o céu?


Como ser um barco
De pirulito
A conduzir o ilhéu?


Como ser uma carreta
De longa cauda
A carregar sonhos em gaveta?


Como ser uma lambreta
Pequena e veloz
A passear pelo cometa?


Como ser uma bicicleta
De três quatro rodas
A pedalar pelo labirinto?


Como ser uma canoa
De palavras e versos
A caminhar sobre águas?


Como ser um papagaio
De vareta de sons
A navegar pelo infinito?

Como ser uma ponte
Entre a poesia e a infância
A permanecer nos livros e histórias?


Como ser poeta e mágico
Transformar as palavras
Em vida e em beleza?


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Para o Elias José, eterno poeta da literatura infantil

Ninfa Parreiras

(foto: arquivo pessoal: a caminho de São João Del Rey, inverno, 2008)

Que sabe a Flor?



Que sabe a Flor?


Amar
Amarílis


Que sabe a flor sobre o amor?
Conjugar o verbo amar?


Acordar com saudade
Secar as lágrimas


Enrolar-se ao vento
Aguardar a chuva

Esconder-se da dor
Abraçar o arco-íris


Espalhar o perfume
Salpicar a alegria


Que sabe a flor
Sobre o amor?


Ninfa Parreiras

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(foto: arquivo pessoal, Casa mia, inverno 2008)

Raízes no Céu

RAÍZES NO CÉU

As raízes mergulham no solo?
Viramos estrelas no céu?
Os mapas são feitos de papel?
O infinito termina ali?


As raízes correm na direção do céu
E dos ventos
E dos rios
E dos mares


As raízes são linhas de vida
Lembranças retorcidas alinhavadas
Nomeiam caminhos imaginários
Desenham mapas ao léu


As estrelas pintam de luzes a noite
Jorram brilhos d’água
Piscam palavras breves
Bordam renda prateada


Os mapas são desenhos de dentro
Fotos das nossas memórias
Territórios de histórias
Oceanos de letras


Infinito é o desenho da mãe
Ela está aqui está lá, em qualquer lugar

Bordado de pranto
Mãe é desejo rápido e longo: infinito


Ninfa Parreiras

Para Renata Carreto, amiga que se despediu da mãe outro dia.
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(foto: arquivo pessoal, Inhotim, MG, inverno, 2008)

Sobretudo


SOBRETUDO

De tijolos são seus olhos
Duros e firmes
A admirar o céu
A contemplar os morros


Onde chegar?
Se o fim não aparece
Onde tocar?
Se o céu espelha montanhas


De sobretudo
Você se veste do frio
Que colore os ipês
E carrega no azul do teto


Como ir além da serra?
Se o olhar não alcança o infinito
Como conservar o amor?
Se as tardes mudam de cor.


Ninfa Parreiras

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(foto: arquivo pessoal, Tiradentes, inverno, 2008)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Caminhos do Céu


Caminhos Infinitos

De que tamanho é o infinito?
Do desenho da lua?
Do brilho do sol?

Como chegar ao infinito?
Pelas nuvens do céu?
Pela chuva que escorre?

Como contar o infinito?
Todos os dedos das mãos e dos pés?
Os galhos de uma árvore?

O infinito tem gosto?
De jabuticaba no pé?
De ora-pro-nobis com angu?


O infinito tem parente?
O finito sem fim?
O fim e o começo?

Dá pra fotografar o infinito?
Enquadrar o mar?
Mapear as nuvens?


O infinito toca violino
Veste todas as notas
Em uma só.


Ninfa Parreiras

Pra Lice, que me traz infinitas perguntas. E me responde minhas infinitas dúvidas.
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(foto: arquivo pessoal, Inhotim, inverno, 2008)

Contrastes


CONTRASTES


Uma fala molhada
Uma conversa seca

Olhos regados de amor

Olhar árido de rancor

Espelhos lagos
Molduras retorcidas

Sorrisos apitos
Gargalhadas escuras

Meu oeste
Seu leste

Meu alento
Seu vento

Ladeira acima
Morro abaixo

Minhas minas
Sua sina

Um contorno a lápis
Uma nota só.

Um conto sem ponto
Contrastes.


Ninfa Parreiras

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(foto: arquivo pessoal, Inhotim, MG, inverno, 2008)

Uma Sombra na Parede


Sombra na Parede

Nossa existência não passa de uma sombra
Encostada à parede do tempo
Sombra que se revela pouco
Sombra que escurece lembranças


Sombra de curvas atalhos galhos
Secos de tanto chorar
Sombra que sobrevive entre
Claros e escuros


Sombras em renda
Sutis, bordadas
Sombras em gravetos troncos
Pesados e toscos


Sombras em dourado
Do iluminado poente
Sombras em prateado
Da lua em atalho


Sombras preguiçosas
Sem chuva sem orvalho
Sonolentas
Em lento sono de espera


Sombras embaçadas
Sobras de vida
Arrastadas pelo veloz do tempo
Capturadas em imagens
Sombras


Sonsas
Sempre
Uma Sombra na parede


(foto: arquivo pessoal, Tiradentes, inverno, 2008)


Para a Lucília, que o aniversário chega junto com a Primavera

Desenho Letras


DESENHO LETRAS

Desenho letras
Sobre sua pele
Papel sem transparências
De textura firme
Surgem palavras curiosas
Caladas por indagações

Não respondidas
Seu corpo
Meu corpo
Inauguram uma saudade
Sem vírgulas
Nem acentos

Meus olhos
Seus olhos
Numa nascente de rio
D'água doce
Brotam afluentes
De sonhos...

Curso da paixão.

(foto: arquivo pessoal, Inhotim, Minas, inverno, 2008)