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sexta-feira, 30 de maio de 2008

MARCAS DO TEMPO


Marcas do Tempo

O tempo passeia pela pele
Passeia pela praça principal
Passeia pelo poste solitário

O tempo escorre lágrimas
Escorre mágoas muitas
Escorre ladeira abaixo

O tempo brinca com o vento
Brinca de queimar o corpo
Brinca de apagar as velas

O tempo derrama ferrugem
Derrama milhas caminhadas
Derrama saudades guardadas

O tempo tempera a vida
Tempera com pimenta os dias
Tempera com ervas as noites

O tempo inventa lembranças
Inventa sonhos
Inventa laços

O tempo apaga
E fecha a porta
Até outro tempo.
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(foto: arquivo pessoal, Papagaio, outono, 2008)

sábado, 17 de maio de 2008

UM MAR DE GENTE

Meu livro lançado em 2008: Um mar de gente, ilustrado pela Suppa, publicado pela Editora Girafinha.

NUVENS DE COPACABANA


NUVENS DE COPACABANA
              ninfa parreiras
Um encontro num final de tarde
O teto do céu se preparava para chover
E o tapete do mar balançava
Daqui pra lá de lá pra cá...

- São mesmo verdes as folhas?
Pergunta ela, ao olhar para a cortina.
Pois, o verde está nos olhos
De quem encontra o verde.

- São mesmo opacas as nuvens?
Pergunta ela, ao descobrir o teto.
Pois, opacos são nossos olhos de todos os dias
Opacos são os caminhões nas estradas a rasgar o tempo.

- São mesmo salgadas as águas do mar?
Pergunta ela, ao deparar-se com aquele tapete.
Pois, salgadas são as lágrimas do mar
Salgadas as minhas, as suas lágrimas.
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(foto: arquivo pessoal, Copacabana, Rio de Janeiro, Verão, 2008)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

ESTAÇÃO EM MINAS

UMA ESTAÇÃO
          ninfa parreirasDe que é feita a saudade?
Do sal do mar?

De que é feito o amor?
Da chama que ilumina a noite?

De que é feito o desapego?
Da mão que diz até logo?

De que é feita a paixão?
Da onda que embola e desenrola?

De que é feita a solidão?
De um olho em busca do outro?

De que é feita a falta?
Do espaço em branco?

De que é feita a alegria?
De uma mão que conversa com a outra?

De que é feito o mundo?
De pessoas e de pedras?

De que é feito um sonho?
Do que você não esperava?

De que é feita a espera?
Dos dias que caem do calendário?

De que é feita uma estação?
Do trem que se atrasa?
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(foto: arquivo pessoal, Estação do Trem, Itaúna, Verão, 2008)

segunda-feira, 12 de maio de 2008

MAR DE COPACABANA


DERRAME SEU MAR

Derrame seu mar sobre a serra
Tempere os vales com o sal
Ilumine as matas de areias
Salpique de estrelas as veredas

Verdades dos que conhecem
O oceano o rio que o nutre
Ano a ano de relâmpagos
Ouça o canto da maresia

Chegue mais perto de Minas
Sopre suas ondas sobre os minérios
Esparrame sua lua sobre as curvas
Encurte a distância entre o mar e as montanhas

Acolha nos braços os rios
Eles deslizam das colinas do cerrado
Atravessam cidades mortas
Alcançam o infinito do horizonte

Abrace os morros
Toque as ladeiras de pedra sabão
Acorde a liberdade
Derrame seu mar sobre Minas.

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(foto: arquivo pessoal, Copacabana, verão, 2007)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

ENTRENINHOS



ENTRENINHOS
Riscos no céu
Horizontes que se abrem
Ninhos de aves sertanejas

Sem água
Ninhos ao ar?
Ovos guardados

Sem árvores
Galhos folhas
Falta?

Na linha reta
As aves chocam
Seus ovos

Os filhotes
Perdem-se
No ser tão só.

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(foto: arquivo pessoal, Bezerros, Pernambuco, verão, 2008)

PAPANGU


PAPANGU


Para frente corre o rio?
E a cachoeira dá ré?
O trem volta atrás?

Como alcançar a velocidade
De um papagaio de papel?
Dar corda?

Como atravessar rio sem barco?
Dobrar à esquerda?
Seguir em frente?

Como um trilho de trem
Sigo prossigo
Não desisto

A vida um carnaval
Um Papangu
De sustos e brincadeiras.
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(foto: arquivo pessoal, Pernambuco, verão 2008)

JOGO DE BOLINHAS



JOGO DE BOLINHAS



Em cada pote
Os dias as noites
Os encontros
Os desencontros
As despedidas

Em cada pote
Um susto
Uma surpresa
Um contraponto
Um improviso

Seria a vida um jogo?
De bolinhas
Potes cheios
E vazios
A encher

Potes novos
Potes antigos
A derramar anos
A transbordar dores
A esperar amores

A vida:
Cirigüelas
Pitangas
Acerolas
Um jogo de bolinhas.
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(foto: arquivo pessoal, Pernambuco, verão 2008)

terça-feira, 6 de maio de 2008

MÃE


MÃE PALAVRA

Mãe é palavra manhosa
Montanhosa e mansa
Mais água
Manhã.

Amanhece mais cedo
Anoitece tarde
Mãe é sempre?
É ilimitada?

Maré que cobre e alimenta
Margem de dentro
Margem de fora
Margem para toda hora

Mãe é chama
Acesa apagada
Lua cheia
Madrugada incessante

Mãe cigana
Mãe sacerdotisa
Mãe palavra breve
Palavra de longo alcance.
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(foto: arquivo pessoal, Pedro do Rio, outono, 2008)

domingo, 4 de maio de 2008

MÃE, COMO VOCÊ


MÃE, COMO VOCÊ


Uma rosa roseira
Uma margarida amar
Uma dália dádiva
Uma sempre-viva

Que te dar?
Para apagar a amargura
Do ser mãe
Das rugas e rusgas do tempo

Das mil e uma noites
Sem dormir
Cem histórias
Para contar

Mãe, você, mulher,
Uma sempre-viva
Desabrochada
De cores vivas e atentas

Alerta para amparar
Os desesperos dos filhos
A solidão o perdão
Mãe, tira de mim o desamparo de ser

Mãe, como você.
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(para a Liseta, mãe da minha querida amiga Lucília)
(foto: arquivo pessoal, Papagaio, MG, outono, 2008)

O QUE FAZ DE UMA MULHER UMA MÃE


O que faz de uma Mulher uma Mãe

O que faz uma mãe?
Um casamento?
Uma união?
Um pai?

Como uma mulher se torna mãe?
Com o fazer amor?
Com o gestar?
Com o parir?

O que faz de uma mulher uma Mãe?
A amamentação?
O acalanto?
O ninar?

Como a mulher se sente mãe?
Ao acolher?
Ao repreender?
Ao ouvir o filho?

A mulher se faz Mãe na primeira mirada ao filho
No ventre, no colo, no velocípede
Na velocidade dos anos
Nas videiras dos campos

A Mãe se realiza
Quando o filho lhe chama “mãe!”
E lhe retribui com o olhar de filho
E lhe acolhe em um abraço que não tem fim

Que se esparrama pelos anos
Enlaça, entrelaça
Ponto fio palavra
Abraço laço de filho

Como uma espera de mãe.
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(foto: arquivo pessoal, Margem do Rio Mondego, Portugal, inverno, 2007)
(para a Liseta, mãe da minha querida amiga Lucília)

sábado, 3 de maio de 2008

Minas não sai de Mim

Minas não sai de Mim


Onde vou
O que faço
Minas está lá

Com o pão de queijo
O pé de moleque
O tutu, o tropeiro

Me acompanha a lugares diferentes
A terras distantes
Em idiomas que nem conheço

Seja inverno
Caia neve caia trem
Seja deserto de palavras

Minas está lá
Como uma companheira
Fiel, inseparável

E depois que eu viver
Tantos lugares encontros despedidas
Estará junto ao meu leito de morte?

Minas não sai de Mim.


(foto: arquivo pessoal, Tiradentes, MG, verão, 2008)



ESPELHO CERRADO


ESPELHO CERRADO



Gostava de desenhar
Arbustos e ramas
Troncos esticados ao céu

Desenhos d'água
Aquarela e pastel
Seco?

Para onde foram as folhas?
Sem flores, sem brilhos
Moldura barroca

Carece de volumes
Espelha esqueletos
Espera a chuva

O Espelho do Cerrado
Mostra a face do inverno
Espelha a beleza da seca.

(foto: arquivo pessoal, Papagaio, MG, inverno 2007)


sexta-feira, 2 de maio de 2008

SILÊNCIOS


Silêncios da Alma

          ninfa parreiras

Estava calada
Fui escutar os silêncios d’alma
Cada pedaço
Cada falta
A Alma fala?
Alma canta?
Alma grita?
Alma pede?
Alma responde: sim,
- tenho um compromisso
Com a minha sinceridade
Com a sinceridade de quem me lê
De quem me vê
De quem
De você.

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(01/05/08)
(foto: arquivo pessoal, Coimbra, Portugal, inverno, 2006)

Encontro



Encontro entre um Homem e uma Mulher


Quando os olhos se encontram
E avistam não mais um mar
Mas um oceano inventado

Quando as mãos não sabem
Como se apoiar
Nem onde tocar

Quando no peito
Surge uma bateria
Do fundo d’alma

Como se chama?
Maria, Antonia, João, José
Pouco importa o nome

Pouco importa se chove
Ou se a lua é cheia
Importa o silêncio dos olhares

Importa o que chega de perguntas
Lá de dentro
Perguntas que não pedem respostas

Pedem braços de desejos
Abraços de palavras
Um tempo feito de aço.


(foto: arquivo pessoal, Coimbra, Portugal, inverno, 2007)