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sábado, 6 de dezembro de 2008

Coisas Chegam, Coisas Partem


Coisas Chegam, Coisas Partem
O que dizer do ano que se despede de nós?
Das coisas que partem:
Lembranças, saudades, insucessos...
Um livro cheio de histórias lidas?
Algumas páginas amassadas.
Outras manchadas de café.
Linhas sublinhadas...
A água da enxurrada que invadiu a casa.
O que é que passa?
A lágrima que seguramos para não cair?
As folhas do calendário velho?
Palavras sussurradas ao pé do ouvido?



O que esperar do ano que aponta logo ali?
Das coisas que chegam:
Vazios, promessas, entradas...
Um livro sem tempestades?
Um rascunho de incertezas?
Um monte de páginas brancas?
Um envelope a ser preenchido.
Um caderno sem pauta.
As mudanças de estação.
Os planos dos namorados.
As viagens e as trilhas.
Miragens montanhas.
Paisagens de ondas.


Umas coisas partem, outras chegam...----------------------------------------------------------------------------


Ninfa Parreiras

(foto: arquivo pessoal, Papagaio, MG, primavera, 2008)

SOBRECORES


SOBRECORES
Verde a tarde
Verde a folha
Ver-te

Verter a dor
Em manhã
Amanhecer

Verde a noite
Verde a ponte
Ver-te

Verter a saudade
Em canto
Encanto

Verde o olhar
Verde a lagarta
Ver-te

Verde o amor
Verde a espera
Ver-te.

Ninfa Parreiras
(foto: arquivo pessoal, Papagaio, primavera, 2008)

Além da Janela


ALÉM DA JANELA


Janela que abre e fecha
Recebe o vento
A nuvem de pó
A poeira migalha
A carta tão só.


Janela que abre e fecha
Mal me quer
Bem me quer
Quem te quer?
Dias despetalados.

Janela que abre e fecha
Conta uma história de lá
Das ondas de saudades
Morros de olhares
Selvas de estrelas.

Janela que abre e fecha
Guarda o som
A memória
A palavra
O desejo.


Janela que abre e fecha
Deixa aberto meu braço
Pra receber o verão
Abraçar as teclas das estradas
Ensaiar a banda do coração.


Ninfa Parreiras
(foto: arquivo pessoal, Papagaio, MG, primavera, 2008)



Bordado


BORDADO

Eram poucas cores
Na primeira vez
Poucos risos seus
Um só rio meu
Um olhar curioso
Daqui e daí
Algumas dúvidas
Desejos silenciosos

As luas se passaram
As enxurradas emocionadas
O sol secou poças amarguradas
Surgiram cores novas
Limpas e claras
Sorrisos abraçados
Mãos sorridentes
Brilhos nas folhas

A chuva abriu um ano

Novo em nove
No toque seu meu
No nosso olhar
Derramou gota a gota
Tempestades de amor
De alegrias tecidas
De palavras sussurradas

O bordado é nosso

Pra forrar seu aniversário
Das coisas mais gostosas
De estrelas que piscam
De cantos de aves
De páginas cheias
De palavras de amor
E de felicidades.
Ninfa Parreiras

(foto: arquivo pessoal, Papagaio, MG, primavera, 2008)

Abra e entre


Abra e Entre

As tardes não fecham a porta do dia
As tardes abrem as janelas da noite
As tardes inauguram a certeza da luz.

Não é tarde
Abra e entre.

O poente é uma porta entreaberta
O poente põe a sorte
O poente distrai a morte.

Não é tarde
Abra e entre.

ninfa parreiras

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(foto: arquivo pessoal, Papagaio, MG, primavera, 2008)




terça-feira, 25 de novembro de 2008

E o Mar?

E O MAR?



Crianças
Olhares brincantes
Ondas de histórias
E o Mar?


Conchinhas
Segredos de caracóis
Algas vitórias
E o Mar?

Texturas
Das águas andanças
Areias espumantes
E o Mar?

Boneca
Menina de tranças
Retalhos navegantes
E o Mar?

Comidinhas
Palavras em ondas
Versos cantantes.
O Mar, a maré, a montanha d'água!


Para o pessoal da Escola Oga Mitá, que viu o mar, mergulhou, fotografou e fez história!: Bernardo Vitiello, Bernardo Dinucci, Carolina, Clara, Leonardo, Luís Henrique, Giuliana, Pedro Henrique Nunes, Pedro Henrique Pereira e Maria Eduarda; professora Marta; estagiária Patrícia e Ana Ribeiro, a grande navegante de todo este mar de descobertas.
Novembro, 2008


Ninfa Parreiras

(foto: arquivo pessoal: Prainha, Rio de Janeiro, outono, 2007)

domingo, 5 de outubro de 2008

DE GRAU

DE GRAU

Subir
Passo a passo

Chegar ao véu
Que cobre a terra

Levantar a saia do mundo
Há muitas e muitos
Saias e degraus

Multicoloridos multifacetados
Disformes esfacelados
Mutantes sinfônicos

Degrau
De perto
De longe

As lentes e as saias
Revelam um mundo torto
De muitos tremores

Remendos colagens
Parafusos embrulhos
Pregos alfinetes

Botões presilhas
Cacos de vidro
De vida de morte.


Ninfa Parreiras
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(foto: arquivo pessoal, Escadaria Selaron, RJ, verão, 2008)

domingo, 21 de setembro de 2008

DE QUE SOMOS FEITOS?

DE QUE SOMOS FEITOS?



Das raízes das árvores
Crescidas sob a terra


Dos sonhos ancestrais
Desenhados no céu

Dos rabiscos dos galhos
Entrelaçados ao vento

Dos mapas dos rios
Dias e noites escorridos


Das sombras tranqüilas
Plácidas ao tempo


De que somos feitos?
Papel de seda brinquedo


Do linho branco e puro
Da pedra parada


Somos feitos de nuvens
Sopros suaves

Instantes d’agora
Momentos d’antes

Somos feitos uma vida
Pequena, longa


Ilusões
Memórias

O inesquecível
O memorável


Do infinito da hora
Do pleno do dia.

Ninfa Parreiras

(Foto: arquivo pessoal, Inhotim, inverno, 2008)


Cerrado em Primavera


CERRADO EM PRIMAVERA

Na serra no mato
Na trilha do vento
Brilham flores
Piscam folhas
Cores e sabores
Secas resistentes
Ouro na pétala
Tesouro de Minas
Besouros borboletas
Aves e cantos
Encantos de violetas
Primaveras gerais
Dafne coroa de flores
Dafne desabrocha mulher!

Pra Dafne, com o carinho da mãe.

Ninfa Parreiras

(foto: arquivo pessoal, Cerrado mineiro, 2008)

Em Flor


EM FLOR


Menina pequena
Tostões e corola
Boneca e viola
Coroa de botões


Desabrocha, perfuma
Em flor uma a uma
Florações...
De tantas estações

Mulher bela
De pétalas sorridentes
De asas abertas
Borboleta na janela


Com sol, sem vento
Na primavera
Do jardim de setembro
Da lua dourada.

Pra Dafne, minha menina de setembro. Hoje, mulher.

Ninfa Parreiras
(foto: arquivo pessoal, Inhotim, 2008)

Transição


TRANSIÇÃO


Como ser um avião
De papel transparente
A cruzar o céu?


Como ser um barco
De pirulito
A conduzir o ilhéu?


Como ser uma carreta
De longa cauda
A carregar sonhos em gaveta?


Como ser uma lambreta
Pequena e veloz
A passear pelo cometa?


Como ser uma bicicleta
De três quatro rodas
A pedalar pelo labirinto?


Como ser uma canoa
De palavras e versos
A caminhar sobre águas?


Como ser um papagaio
De vareta de sons
A navegar pelo infinito?

Como ser uma ponte
Entre a poesia e a infância
A permanecer nos livros e histórias?


Como ser poeta e mágico
Transformar as palavras
Em vida e em beleza?


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Para o Elias José, eterno poeta da literatura infantil

Ninfa Parreiras

(foto: arquivo pessoal: a caminho de São João Del Rey, inverno, 2008)

Que sabe a Flor?



Que sabe a Flor?


Amar
Amarílis


Que sabe a flor sobre o amor?
Conjugar o verbo amar?


Acordar com saudade
Secar as lágrimas


Enrolar-se ao vento
Aguardar a chuva

Esconder-se da dor
Abraçar o arco-íris


Espalhar o perfume
Salpicar a alegria


Que sabe a flor
Sobre o amor?


Ninfa Parreiras

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(foto: arquivo pessoal, Casa mia, inverno 2008)

Raízes no Céu

RAÍZES NO CÉU

As raízes mergulham no solo?
Viramos estrelas no céu?
Os mapas são feitos de papel?
O infinito termina ali?


As raízes correm na direção do céu
E dos ventos
E dos rios
E dos mares


As raízes são linhas de vida
Lembranças retorcidas alinhavadas
Nomeiam caminhos imaginários
Desenham mapas ao léu


As estrelas pintam de luzes a noite
Jorram brilhos d’água
Piscam palavras breves
Bordam renda prateada


Os mapas são desenhos de dentro
Fotos das nossas memórias
Territórios de histórias
Oceanos de letras


Infinito é o desenho da mãe
Ela está aqui está lá, em qualquer lugar

Bordado de pranto
Mãe é desejo rápido e longo: infinito


Ninfa Parreiras

Para Renata Carreto, amiga que se despediu da mãe outro dia.
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(foto: arquivo pessoal, Inhotim, MG, inverno, 2008)

Sobretudo


SOBRETUDO

De tijolos são seus olhos
Duros e firmes
A admirar o céu
A contemplar os morros


Onde chegar?
Se o fim não aparece
Onde tocar?
Se o céu espelha montanhas


De sobretudo
Você se veste do frio
Que colore os ipês
E carrega no azul do teto


Como ir além da serra?
Se o olhar não alcança o infinito
Como conservar o amor?
Se as tardes mudam de cor.


Ninfa Parreiras

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(foto: arquivo pessoal, Tiradentes, inverno, 2008)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Caminhos do Céu


Caminhos Infinitos

De que tamanho é o infinito?
Do desenho da lua?
Do brilho do sol?

Como chegar ao infinito?
Pelas nuvens do céu?
Pela chuva que escorre?

Como contar o infinito?
Todos os dedos das mãos e dos pés?
Os galhos de uma árvore?

O infinito tem gosto?
De jabuticaba no pé?
De ora-pro-nobis com angu?


O infinito tem parente?
O finito sem fim?
O fim e o começo?

Dá pra fotografar o infinito?
Enquadrar o mar?
Mapear as nuvens?


O infinito toca violino
Veste todas as notas
Em uma só.


Ninfa Parreiras

Pra Lice, que me traz infinitas perguntas. E me responde minhas infinitas dúvidas.
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(foto: arquivo pessoal, Inhotim, inverno, 2008)

Contrastes


CONTRASTES


Uma fala molhada
Uma conversa seca

Olhos regados de amor

Olhar árido de rancor

Espelhos lagos
Molduras retorcidas

Sorrisos apitos
Gargalhadas escuras

Meu oeste
Seu leste

Meu alento
Seu vento

Ladeira acima
Morro abaixo

Minhas minas
Sua sina

Um contorno a lápis
Uma nota só.

Um conto sem ponto
Contrastes.


Ninfa Parreiras

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(foto: arquivo pessoal, Inhotim, MG, inverno, 2008)

Uma Sombra na Parede


Sombra na Parede

Nossa existência não passa de uma sombra
Encostada à parede do tempo
Sombra que se revela pouco
Sombra que escurece lembranças


Sombra de curvas atalhos galhos
Secos de tanto chorar
Sombra que sobrevive entre
Claros e escuros


Sombras em renda
Sutis, bordadas
Sombras em gravetos troncos
Pesados e toscos


Sombras em dourado
Do iluminado poente
Sombras em prateado
Da lua em atalho


Sombras preguiçosas
Sem chuva sem orvalho
Sonolentas
Em lento sono de espera


Sombras embaçadas
Sobras de vida
Arrastadas pelo veloz do tempo
Capturadas em imagens
Sombras


Sonsas
Sempre
Uma Sombra na parede


(foto: arquivo pessoal, Tiradentes, inverno, 2008)


Para a Lucília, que o aniversário chega junto com a Primavera

Desenho Letras


DESENHO LETRAS

Desenho letras
Sobre sua pele
Papel sem transparências
De textura firme
Surgem palavras curiosas
Caladas por indagações

Não respondidas
Seu corpo
Meu corpo
Inauguram uma saudade
Sem vírgulas
Nem acentos

Meus olhos
Seus olhos
Numa nascente de rio
D'água doce
Brotam afluentes
De sonhos...

Curso da paixão.

(foto: arquivo pessoal, Inhotim, Minas, inverno, 2008)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Os Guardados e o Tempo



O Tempo

O tempo escorre os dias
Cura os queijos
Tempera a preguiça


O tempo teme o fim
Corre estradas
Despenca luas


O tempo treme de frio
Afoga as tristezas
Salva as lembranças


O tempo dispara silêncios
Estremece vozes
Adormece mágoas


O tempo menino levado
Dribla a bola da noite
Arremessa a bola do dia


O tempo conserva os amigos
O tempo um queijo curado
O tempo empata a vida e a morte.


Ninfa Parreiras

(foto: arquivo pessoal, Pitangui, verão, 2008)

sábado, 12 de julho de 2008

Os Bicos Choram



Os Bicos choram


O choro calado
A gota congelada
A palavra não dita
O sonho esperado
Os bicos choram de suor.


A cor embaçada
A fala trancada
O sorriso entreaberto
O mofo descoberto
Os bicos choram de bolor.


A chuva se esparrama
O céu derrama o orvalho
A rede embala
O sono esperado
Os bicos choram de calor.

Ninfa Parreiras

(foto: arquivo pessoal, Papagaio, outono, 2008)

domingo, 22 de junho de 2008

A FUGA


A FUGA

Ele fugiu pela janela
Ela se foi pela porta
Nenhum viu o sol nascer
Nem viu a revoada dos dias. 


O que se vai pela janela...
Onde se esconde?
No porão dos sonhos?
Na claridade da manhã? 


O que se vai pela porta...
Onde escorre?
Na onda de montanhas?
No bosque de marés? 


Pela janela...
Vão-se as horas
Entoam-se cantos
Paredes descobertas. 


Pela porta...
Fecham-se segredos
Fogem toadas
Ficam fechaduras.


A guardar o escuro
A travar o desconhecido
A entoar o cântico
Da manhã.
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(foto: arquivo pessoal, Papagaio, outono de 2007)



domingo, 15 de junho de 2008

Para Você que faz Aniversário

PARA VOCÊ QUE FAZ ANIVERSÁRIO

No dia do seu aniversário
Redescubro uma data especial
Pra uma carta feita à mão
Pra um laço apertado.


Abro a cortina do dia
Janela de frente às montanhas
O ruído do mar maré
Balanço de um abraço.


Procuro pequenas surpresas
Um ramo de flores
Um bom dia diferente
Bilhetinho na caixa de mensagens.


Deposito meus desejos
Em palavras, em gestos
Em pequenas coisas
Em barbantes para amarrar a alegria.


Em linhas sobre bambus
Desenhos feitos à mão
Cores colhidas na mata
Traços tramas toadas.

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(foto: arquivo pessoal, Itaúna, MG, verão, 2008)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

O TRABALHO O SONHO



O TRABALHO O SONHO



Meninos meninas
Sobem morro
Descem trilhas
Correm no asfalto.


Em que pensam?
Quantos dias faltam para amanhã?
Que esperam da corrida da vida?
Qual o seu sonho de futuro?

Seu sonho é o trabalho
Ter uma profissão
Ter um nome
Ser gente.

Para que estudam?
Por que vão à escola?
Por que um outro dia?
O depois, serve para quê?

Seu desejo é ter livros
Conhecer histórias
Viver outros sentimentos
Dividir as dúvidas.

O que aguardam?
O que levam?
Quem os recebe?
Para onde vão?

Momentos ao mar
Horas ao vento
Trabalho sem atalho
Assoalho limpo.


Meninos meninas
Sobem morro
Descem sonhos
Correm as páginas do tempo.


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Para os meninos e meninas da Escola Municipal Marília de Dirceu, na Rua Jangadeiros, em Ipanema, Rio de Janeiro. Seus olhos pediram histórias, livros e sonhos...
O belo trabalho da professora Roseli Maritan, da Sala de Leitura, e dos professores Roberto Adão e Bete Buss!
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(foto: arquivo pessoal, Pedro do Rio, "Boa Liga", outono, 2008)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

BALADA DO TEMPO


BALADA DO TEMPO


O dia vai embora
E nos deixa de óculos escuros

A noite colore as ruas
Com estrelas que não tocamos


As pétalas caem
Para onde se vão?


A chuva lava as pedras
E as ensaboa com limo e ferrugem

As ondas mudam de melodias
Sem conhecermos o repertório


Os jornais de ontem recolhidos
Para onde vão?


O vento lambe a tarde
E desaparece com a buzina do tempo

As labaredas desenham imagens
De cinema mudo


O por do sol
Para onde vai?


(Valéria, pra você que anda cheia de perguntas, com a partida do seu pai) ----------------------------------------------------------- (foto: arquivo pessoal, Pedro do Rio, "Boa Liga", outono, 2008)

domingo, 1 de junho de 2008

O MUNDO É REDONDO?


O MUNDO É REDONDO?

Depois da montanha era o fim
Subir a serra era tocar o céu
Dar a volta era chegar à outra ponta
Acreditava no fim do mundo
Fim?

O mundo era como uma bola
De jogar com os moleques da rua
Era como os pneus vazios
De rodar de um lado pro outro
Lado?

A rua era redonda nas brincadeiras
Caso do vizinho quintal porão
Doce no tacho biscoito na palha
De volta à mesma rua lua
Volta?

O mundo é redondo medonho?
Como chegar ao outro lado?
Como mostrar a outra face?
Como tocar o fim?
E?

E voltar ao início
Pra provar que é bom demais
Abrir o dia abrir a noite
Pisar a primeira página
Rodar a palavra.
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(foto: arquivo pessoal, Papagaio, MG, outono, 2008)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

MARCAS DO TEMPO


Marcas do Tempo

O tempo passeia pela pele
Passeia pela praça principal
Passeia pelo poste solitário

O tempo escorre lágrimas
Escorre mágoas muitas
Escorre ladeira abaixo

O tempo brinca com o vento
Brinca de queimar o corpo
Brinca de apagar as velas

O tempo derrama ferrugem
Derrama milhas caminhadas
Derrama saudades guardadas

O tempo tempera a vida
Tempera com pimenta os dias
Tempera com ervas as noites

O tempo inventa lembranças
Inventa sonhos
Inventa laços

O tempo apaga
E fecha a porta
Até outro tempo.
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(foto: arquivo pessoal, Papagaio, outono, 2008)

sábado, 17 de maio de 2008

UM MAR DE GENTE

Meu livro lançado em 2008: Um mar de gente, ilustrado pela Suppa, publicado pela Editora Girafinha.

NUVENS DE COPACABANA


NUVENS DE COPACABANA
              ninfa parreiras
Um encontro num final de tarde
O teto do céu se preparava para chover
E o tapete do mar balançava
Daqui pra lá de lá pra cá...

- São mesmo verdes as folhas?
Pergunta ela, ao olhar para a cortina.
Pois, o verde está nos olhos
De quem encontra o verde.

- São mesmo opacas as nuvens?
Pergunta ela, ao descobrir o teto.
Pois, opacos são nossos olhos de todos os dias
Opacos são os caminhões nas estradas a rasgar o tempo.

- São mesmo salgadas as águas do mar?
Pergunta ela, ao deparar-se com aquele tapete.
Pois, salgadas são as lágrimas do mar
Salgadas as minhas, as suas lágrimas.
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(foto: arquivo pessoal, Copacabana, Rio de Janeiro, Verão, 2008)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

ESTAÇÃO EM MINAS

UMA ESTAÇÃO
          ninfa parreirasDe que é feita a saudade?
Do sal do mar?

De que é feito o amor?
Da chama que ilumina a noite?

De que é feito o desapego?
Da mão que diz até logo?

De que é feita a paixão?
Da onda que embola e desenrola?

De que é feita a solidão?
De um olho em busca do outro?

De que é feita a falta?
Do espaço em branco?

De que é feita a alegria?
De uma mão que conversa com a outra?

De que é feito o mundo?
De pessoas e de pedras?

De que é feito um sonho?
Do que você não esperava?

De que é feita a espera?
Dos dias que caem do calendário?

De que é feita uma estação?
Do trem que se atrasa?
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(foto: arquivo pessoal, Estação do Trem, Itaúna, Verão, 2008)

segunda-feira, 12 de maio de 2008

MAR DE COPACABANA


DERRAME SEU MAR

Derrame seu mar sobre a serra
Tempere os vales com o sal
Ilumine as matas de areias
Salpique de estrelas as veredas

Verdades dos que conhecem
O oceano o rio que o nutre
Ano a ano de relâmpagos
Ouça o canto da maresia

Chegue mais perto de Minas
Sopre suas ondas sobre os minérios
Esparrame sua lua sobre as curvas
Encurte a distância entre o mar e as montanhas

Acolha nos braços os rios
Eles deslizam das colinas do cerrado
Atravessam cidades mortas
Alcançam o infinito do horizonte

Abrace os morros
Toque as ladeiras de pedra sabão
Acorde a liberdade
Derrame seu mar sobre Minas.

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(foto: arquivo pessoal, Copacabana, verão, 2007)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

ENTRENINHOS



ENTRENINHOS
Riscos no céu
Horizontes que se abrem
Ninhos de aves sertanejas

Sem água
Ninhos ao ar?
Ovos guardados

Sem árvores
Galhos folhas
Falta?

Na linha reta
As aves chocam
Seus ovos

Os filhotes
Perdem-se
No ser tão só.

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(foto: arquivo pessoal, Bezerros, Pernambuco, verão, 2008)

PAPANGU


PAPANGU


Para frente corre o rio?
E a cachoeira dá ré?
O trem volta atrás?

Como alcançar a velocidade
De um papagaio de papel?
Dar corda?

Como atravessar rio sem barco?
Dobrar à esquerda?
Seguir em frente?

Como um trilho de trem
Sigo prossigo
Não desisto

A vida um carnaval
Um Papangu
De sustos e brincadeiras.
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(foto: arquivo pessoal, Pernambuco, verão 2008)

JOGO DE BOLINHAS



JOGO DE BOLINHAS



Em cada pote
Os dias as noites
Os encontros
Os desencontros
As despedidas

Em cada pote
Um susto
Uma surpresa
Um contraponto
Um improviso

Seria a vida um jogo?
De bolinhas
Potes cheios
E vazios
A encher

Potes novos
Potes antigos
A derramar anos
A transbordar dores
A esperar amores

A vida:
Cirigüelas
Pitangas
Acerolas
Um jogo de bolinhas.
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(foto: arquivo pessoal, Pernambuco, verão 2008)

terça-feira, 6 de maio de 2008

MÃE


MÃE PALAVRA

Mãe é palavra manhosa
Montanhosa e mansa
Mais água
Manhã.

Amanhece mais cedo
Anoitece tarde
Mãe é sempre?
É ilimitada?

Maré que cobre e alimenta
Margem de dentro
Margem de fora
Margem para toda hora

Mãe é chama
Acesa apagada
Lua cheia
Madrugada incessante

Mãe cigana
Mãe sacerdotisa
Mãe palavra breve
Palavra de longo alcance.
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(foto: arquivo pessoal, Pedro do Rio, outono, 2008)

domingo, 4 de maio de 2008

MÃE, COMO VOCÊ


MÃE, COMO VOCÊ


Uma rosa roseira
Uma margarida amar
Uma dália dádiva
Uma sempre-viva

Que te dar?
Para apagar a amargura
Do ser mãe
Das rugas e rusgas do tempo

Das mil e uma noites
Sem dormir
Cem histórias
Para contar

Mãe, você, mulher,
Uma sempre-viva
Desabrochada
De cores vivas e atentas

Alerta para amparar
Os desesperos dos filhos
A solidão o perdão
Mãe, tira de mim o desamparo de ser

Mãe, como você.
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(para a Liseta, mãe da minha querida amiga Lucília)
(foto: arquivo pessoal, Papagaio, MG, outono, 2008)

O QUE FAZ DE UMA MULHER UMA MÃE


O que faz de uma Mulher uma Mãe

O que faz uma mãe?
Um casamento?
Uma união?
Um pai?

Como uma mulher se torna mãe?
Com o fazer amor?
Com o gestar?
Com o parir?

O que faz de uma mulher uma Mãe?
A amamentação?
O acalanto?
O ninar?

Como a mulher se sente mãe?
Ao acolher?
Ao repreender?
Ao ouvir o filho?

A mulher se faz Mãe na primeira mirada ao filho
No ventre, no colo, no velocípede
Na velocidade dos anos
Nas videiras dos campos

A Mãe se realiza
Quando o filho lhe chama “mãe!”
E lhe retribui com o olhar de filho
E lhe acolhe em um abraço que não tem fim

Que se esparrama pelos anos
Enlaça, entrelaça
Ponto fio palavra
Abraço laço de filho

Como uma espera de mãe.
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(foto: arquivo pessoal, Margem do Rio Mondego, Portugal, inverno, 2007)
(para a Liseta, mãe da minha querida amiga Lucília)

sábado, 3 de maio de 2008

Minas não sai de Mim

Minas não sai de Mim


Onde vou
O que faço
Minas está lá

Com o pão de queijo
O pé de moleque
O tutu, o tropeiro

Me acompanha a lugares diferentes
A terras distantes
Em idiomas que nem conheço

Seja inverno
Caia neve caia trem
Seja deserto de palavras

Minas está lá
Como uma companheira
Fiel, inseparável

E depois que eu viver
Tantos lugares encontros despedidas
Estará junto ao meu leito de morte?

Minas não sai de Mim.


(foto: arquivo pessoal, Tiradentes, MG, verão, 2008)



ESPELHO CERRADO


ESPELHO CERRADO



Gostava de desenhar
Arbustos e ramas
Troncos esticados ao céu

Desenhos d'água
Aquarela e pastel
Seco?

Para onde foram as folhas?
Sem flores, sem brilhos
Moldura barroca

Carece de volumes
Espelha esqueletos
Espera a chuva

O Espelho do Cerrado
Mostra a face do inverno
Espelha a beleza da seca.

(foto: arquivo pessoal, Papagaio, MG, inverno 2007)


sexta-feira, 2 de maio de 2008

SILÊNCIOS


Silêncios da Alma

          ninfa parreiras

Estava calada
Fui escutar os silêncios d’alma
Cada pedaço
Cada falta
A Alma fala?
Alma canta?
Alma grita?
Alma pede?
Alma responde: sim,
- tenho um compromisso
Com a minha sinceridade
Com a sinceridade de quem me lê
De quem me vê
De quem
De você.

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(01/05/08)
(foto: arquivo pessoal, Coimbra, Portugal, inverno, 2006)

Encontro



Encontro entre um Homem e uma Mulher


Quando os olhos se encontram
E avistam não mais um mar
Mas um oceano inventado

Quando as mãos não sabem
Como se apoiar
Nem onde tocar

Quando no peito
Surge uma bateria
Do fundo d’alma

Como se chama?
Maria, Antonia, João, José
Pouco importa o nome

Pouco importa se chove
Ou se a lua é cheia
Importa o silêncio dos olhares

Importa o que chega de perguntas
Lá de dentro
Perguntas que não pedem respostas

Pedem braços de desejos
Abraços de palavras
Um tempo feito de aço.


(foto: arquivo pessoal, Coimbra, Portugal, inverno, 2007)

terça-feira, 29 de abril de 2008

SOBRE OS SENTIMENTOS


Sobre os sentimentos

A gente sente?
Inventa sentimentos?
Cria sonhos?
Mente segredos?

A gente precisa de coisas
Pra viver
Poucas coisas:
Comida, sono, cabana, encontro de olhos

A gente precisa de sonhos
Precisa dos sentimentos
Os sentimentos precisam de uma história
Pra existir dentro da gente

Precisam de um passado
Precisam das lembranças
De fotografias que registramos com a alma
De palavras que escrevemos nos pensamentos

E o amor?
O amor não precisa de nada que vem de antes
Não precisa do ano que passou
Da lua que minguou

Ele abre uma história nova
Como se ela nova não fosse
Ele cria uma intimidade entre as pessoas
Aproxima pessoas que nem se conhecem

Inventa um ontem e um passado
Que ainda não existem
Traz lembranças de coisas que não foram vividas
Traz faltas desconhecidas

Só o amor faz uma cumplicidade
Entre pessoas que eram estranhas há dias atrás
Um bem querer
Um trocar segredos

Um renovar da alma
Um desejo de sonhos
Um apagar das luzes
Uma chuva inesperada

É aquele Amor
Que escapa às previsões
Aos calendários
Às datas.

(foto: arquivo pessoal, Papagaio, abril, 2008)

domingo, 27 de abril de 2008

ESPERA



A ESPERA

ninfa parreiras


O que é a espera
De quem fica
Encostada na janela?

Que espera é esta
Que chama o braço
O abraço o olhar?

Que instante
Que minuto apenas
De uma mirada?

Uma espera dura quanto
Uma madrugada
Uma vida?
(foto: arquivo pessoal, Tiradentes, MG, verão, 2008)

Minas, da janela


MINAS, DA JANELA


Vejo os rios correrem
Para onde?

Os dias escorrerem
Pelas pedras?

As carroças discorrerem
Pelas ruelas?

Os casarões escorregarem
Pelas ladeiras?

Minas de lá e daqui
Soltas nas esquinas do tempo

Minas cabe na janela?
Do outro lado da rua
A espreitar os bondes que não existem

Minas cabe na mala?
Pão de queijo, roça, trem de ferro
Rios doces, mar de serras

Minas cabe num cartão postal?
Pedra sabão, desliza o tempo
As paredes infinitas das montanhas

Minas cabe no porão?
Papéis desbotados
Fechaduras emperradas

Minas cabe?
Onde chega o silêncio
Como falam as lembranças

Minas cabe
Nas palavras todas
Pintadas de Barroco

Minas cabe
Nos incontáveis dias
Sem Minas

Minas cabe
Hoje
Agora

São quinze horas
De um dia de outono
Cabe Minas aqui.

(foto: arquivo pessoal, Um janela de Tiradentes, 2008)

quinta-feira, 17 de abril de 2008

PÉ-DE-MOLEQUE


PÉ-DE-MOLEQUE

ninfa parreiras
Por onde anda?
O menino descalço
Seu apito
Sua dor de pé


Para onde foi?
O moleque da rua
Com a bola a rolar
Seu cabelo ao vento


Pedra sabão
Granito
Mineral
Gerais de meninos


Pé-de-moleque
O calçamento o doce o pé
O moleque
Do menino.


(Congonhas do Campo, MG, verão, 2008)

Rendas


FEITO RENDAS


Quando menina usava saias floridas
Carregadas de babados
Bordadas de bolinhas, bonecas
Estampadas de poá, pião

Pulava os muros
Subia na jabuticabeira
Com as saias multicores
E os desenhos a brincar

Hoje são outras saias
As de aplicações volumosas
De botões madreperolados
Cores acinzentadas

Prefere as escuras
O corte reto
O disfarce para as rugas
Feito rendas.

(foto: arquivo pessoal, Itaúna, MG, 2008)